A estratégia alemã de transição energética, a famosa ENERGIEWINDE, começada há vinte anos, está num impasse total e é no fundo um misto de alarmismo climático-ambiental e de ingenuidade estratégica face à Rússia!
Os acontecimentos globais que sucederam nos últimos meses: pandemia, crise energética e mais recentemente a invasão da Ucrânia, vieram dar razão a todos aqueles, que embora muito criticados, foram chamando a atenção do erro da política energética alemã e europeia, tanto no ritmo e urgência das políticas ambientais, como principalmente na crescente dependência energética europeia face a países de cariz menos democrático, como é o caso da Rússia.
Apesar dos 550 mil milhões de euros investidos nas renováveis intermitentes, eólica e solar (alarmismo climático-ambiental), não se conseguiu reduzir os gases de efeito de estufa e o CO2 e os preços da eletricidade dispararam. Com efeito, as renováveis intermitentes, que produzem ao ritmo da natureza e não dos nossos consumos criam dois problemas principais: em nada contribuem (fotovoltaicas) e muito pouco (eólicas) em potência firme para a potência da ponta de carga noturna, o que obriga a dispor de outras tecnologias para o garantir; o progressivo aumento da sua penetração, embora reduza a energia produzida em térmicas fósseis, criará enormes excedentes de energia. Reconheça-se que em 2022 ainda não se têm tecnologias de armazenamento suficientemente desenvolvidas, que poderão ajudar a resolver estes dois problemas, e que o desenvolvimento das redes transfronteiriças continua insuficiente para dispersar os tais excedentes pelos países vizinhos, mesmo que a preços negativos. Deste modo, as renováveis intermitentes não conseguiram substituir o carvão e o nuclear que se pretendia abandonar, forçando a Alemanha a utilizar mais carvão (25% da produção de eletricidade neste momento) e gás natural, do qual 60% vem da Rússia! Ingenuidade estratégica que nós europeus estamos todos a pagar neste momento!
Leia o artigo na íntegra de Luís Mira Amaral – Coordenador, Clemente Pedro Nunes e Ricardo Nunes em A diversificação energética da Europa.