O hidrogénio é utilizado em Portugal já há muitas dezenas de anos. Mais, faz todo o sentido estudar a futura viabilidade tecnológica do hidrogénio verde como veículo para o armazenamento de eletricidade intermitente, face às outras alternativas possíveis. Mas, desgraçadamente, não é isto que está em causa com esta atabalhoada e apressada Estratégia do Hidrogénio! Estamos, sim, perante o retomar do circo mediático iniciado em 2005 pelo Governo Sócrates para promover as potências elétricas intermitentes, solares e eólicas, à custa dos consumidores. Para atrair investidores para essas tecnologias, na altura imaturas, foram-lhes oferecidas FIT – Feed in Tariffs que dão, a quem delas beneficia, generosas tarifas garantidas em simultâneo com uma reserva absoluta de mercado durante 15 anos! E ainda hoje as famílias e as PME são obrigados a pagar 380 Euros/MWh pela eletricidade solar dos parques concedidos pelo Governo Sócrates em 2010, quando o preço atual de mercado está abaixo de 40 Euros/MWh! E agora, no melhor estilo dos Planos Quinquenais da defunta União Soviética, a Resolução do Conselho de Ministros nº 63/2020 de 14/Agosto estabelece “ sete metas obrigatórias a cumprir até 2030 “, das quais duas de particular impacto nos membros do ACP: 1 a 5% no transporte rodoviário e a criação de 50 a 100 postos de abastecimento de hidrogénio.

o existem tecnologias que permitam alcançar estes objetivos em segurança sem um verdadeiro “saque aos consumidores”

Como não existem ainda tecnologias que permitam alcançar estes objetivos em segurança e sem um verdadeiro “saque aos consumidores“, estas metas constituem um verdadeiro filme de terror. Pelas suas caraterísticas físicas, o hidrogénio é extremamente difícil de armazenar e transportar, o que acarreta sempre um custo enorme! Por exemplo, um depósito de hidrogénio liquefeito que um veículo teria de transportar para ter uma autonomia de 300 km, teria uma pressão de mais de 600 atmosferas e pesaria mais de 1 tonelada. Que o seu automóvel terá que carregar às costas… E imagine um reservatório de hidrogénio a mais de 600 atmosferas de pressão, para poder abastecer junto a uma autoestrada! Imaginem-se os riscos envolvidos e as medidas necessárias para os prevenir… Pois a RCM exige aos consumidores que “paguem o que for preciso para viabilizar estas metas”, sem qualquer estudo tecnológico ou económico que o justifique !

Clemente Pedro Nunes, Prof. Catedrático do Instituto Superior Técnico

Portugal e o Hidrogénio, revista ACP de outubro.