O paraministro Costa Silva, engenheiro de minas, escreveu 142 páginas densas e maçudas, sem um sumário executivo, com grandes tiradas geoestratégicas e citações de filósofos, o que abona sobre a cultura do autor, mas o vírus ideológico da juventude e a falta de adequado enquadramento económico-financeiro explicarão os erros, omissões e contradições do documento. O texto é um catálogo completo de intenções de investimento público, sem hierarquização de prioridades e análises custos-benefícios, parecendo não ter consciência do nosso endividamento.

Parte de um diagnóstico deficiente, porque não fala da estagnação dos últimos 20 anos, e errado, por supor que os problemas estruturais se devem a um modelo ultraliberal que nunca houve em Portugal, antes pelo contrário, temos tido uma intervenção excessiva do Estado, com más políticas públicas, que levaram a uma péssima afetação de recursos e à consequente anemia económica. Propõe-se ser muito ambicioso em termos do reforço do Estado na economia, mas não tem consciência da necessidade de ter uma Administração Pública muito qualificada e motivada. Propõe, assim, o reforço quase obsessivo do Estado, não identificando as suas fraquezas.

O plano de Costa Silva parte de um diagnóstico deficiente, porque não fala da estagnação dos últimos 20 anos, e errado

Aposta, e bem, na reindustrialização e no aproveitamento dos recursos minerais, onde temos uma janela de oportunidade com o lítio, enquanto a bateria de ião-lítio for competitiva, mas menoriza a crucial formação dos recursos humanos. Desvaloriza o investimento direto estrangeiro, essencial para captar a poupança externa numa economia muito endividada e sem capital e reforçar a reindustrialização.

Sugere um fundo soberano, vendo o filme ao contrário, pois tal fundo é um ativo, enquanto o que temos é um passivo soberano, a elevada dívida pública, que não o preocupa, mas que convinha reduzir! Aposta no TGV Lisboa-Porto e nas ligações ferroviárias à Europa, mas é omisso sobre a bitola europeia e as linhas mistas para mercadorias e passageiros, como já aqui expliquei. Valida a aposta megalómana no hidrogénio. Mas até um artigo na edição de 1 de agosto do Expresso, ao querer atacar-nos, acaba por concluir que o hidrogénio verde só é competitivo em 2030, de acordo com a nossa tese!

Aposta no Eixo Atlântico, quando o que está em causa agora é a ligação à Europa com a otimização dos fundos europeus!

Enfim, esperemos que o ministro Siza Vieira, com o realismo, bom senso e equilíbrio que o caracterizam, possa agora fazer um plano realista e exequível para a utilização dos fundos que aí vêm.

Luís Mira Amaral, Engenheiro (IST) e Economista (Msc NOVASBE).

Este artigo foi retirado da Economia Real do Semanário do Expresso de 15 de agosto de 2020