Nos anos 70 do século passado, aquando dos choques petrolíferos, pensou-se em substituir os hidrocarbonetos pelo hidrogénio. Mas até agora não houve desenvolvimentos tecnológicos que o permitissem. O hidrogénio já tem aplicações industriais, como na produção de amoníaco, mas as dificuldades ainda são muito elevadas para termos uma economia do hidrogénio. O facto novo é a vontade política de descarbonizar a economia e o reconhecimento de que a eletrificação não resolvia o problema nalguns sectores industriais pesados e nos transportes rodoviários, marítimos e aéreos de longo curso. A crença na eletrificação desses sectores era evidente no Programa Nacional Energia e Clima 2030, que aqui comentámos. Voltou-se então ao hidrogénio, e acredito que os esforços das grandes economias permitam avanços tecnológicos. Mas, segundo a Agência Internacional da Energia, Portugal quer investir 5 a 10 mil milhões de euros até 2030 e a Alemanha “apenas” 9 mil milhões!!! Nós deveríamos acompanhar à nossa escala com projetos-piloto e com a participação em projetos europeus e internacionais. Tudo isto está explicado num Manifesto que ajudámos a escrever (www.tertuliaenergia.pt).

Avançar para um projeto industrial de grande dimensão seria uma péssima afetação de recursos

Segundo a Comissão Europeia, o hidrogénio cinzento produzido a partir do gás natural, o que a Galp faz, custará à volta de €1,5/kg. Se a este processo adicionarmos a captura do C02 emitido (CCS), teremos o hidrogénio azul, com um custo à volta dos €2,5/kg. Se fizermos o chamado hidrogénio verde a partir da eletrólise da água e usando fontes renováveis, teremos neste momento um custo de produção de €5/kg. Em Sines, ainda teríamos de adicionar os custos de tratamento das águas residuais ou da água do mar. Segundo outras fontes, o hidrogénio verde poderá custar três vezes mais do que o azul. Por isso, a própria Comissão admite avanços neste momento para o hidrogénio azul.

Então, o mais elementar bom senso diz-nos que devemos esperar que a tecnologia dos eletrolisadores evolua, atingindo a maturidade tecnológica, para se avançar em Sines com a produção em escala industrial do hidrogénio verde. O avanço para um projeto industrial de grande dimensão constituiria neste momento uma péssima afetação de recursos, levando à forte subsidiação duma produção não competitiva, criando terríveis custos de oportunidade para uma economia em dramática situação! Os recursos aí aplicados fazem-nos falta para projetos rentáveis, mesmo na energia, onde faria sentido produzir hidrogénio verde a partir da biomassa.

Luís Mira Amaral, Engenheiro (IST) e Economista (Msc NOVASBE)

Artigo de opinião publicado no jornal Expresso de 18/07/2020